Não é raro no jornalismo diário nos depararmos com pautas que nos levam a rostos desconhecidos e, assim sendo, que nos obrigam a revelar as identidades (e os rostos, claro!).
Pra explicar melhor, vou citar minha pauta da última quarta-feira.
O dono de uma construtora e o mestre de obras de um prédio de 7 andares que desabou poucos dias antes de ser entregue aos moradores, em Salvador, iriam prestar depoimento numa determinada delegacia da cidade.
Obviamente que ninguém da imprensa conhecia os dois. Em primeiro lugar, ouvimos o delegado, que nos esclareceu sobre os depoimentos. E então ficamos à espera dos homens na porta da delegacia. Sem saber quem eram... A cada carro que chegava, ou pessoa que entrava, tratávamos de perguntar se eram os depoentes.
O depoimento estava marcado para às duas e meia da tarde. Às quatro eles ainda não tinham chegado. Fui até o delegado e perguntei se eles realmente iriam vir ou não. Com uma resposta positiva, voltei para a porta da delegacia.
Foi então que um carro foi e voltou. E de outro carro desceu um homem de terno e gravata.
- Deve ser o advogado - comentou um dos repórteres.
Engravatado, o homem foi até o carro "suspeito". E voltou em direção à porta da delegacia acompanhado por um homem.
- Será que é o Sílvio*? - perguntou um
* nome do dono da construtora
- Deve ser - respondeu outro
E nisso o batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, se colocou em posição estratégica. Todos prontos para o ataque, eu diria. Como eu estava um pouco mais à frente, perguntei:
- Sílvio?
Ele fez um sinal positivo, como se realmente fosse o Sílvio.
Nessa hora, todo mundo avançou. E logo começou uma correria. Não do suposto Sílvio, mas da gente, da imprensa. Afinal, o homem apressou os passos e começou a se esquivar da gente.
- A obra realmente não tinha álvara?
- O sr trouxe documentos?
- Foi notificado pela Sucom (órgão público)
- Sabia que existia risco de desabamento?
...foi uma avalanche de perguntas! E, na correria, tinha cinegrafista trombando em poste, tumulto para entrar na delegacia, porta de vidro quase quebrando, tropeços, fios de microfone se embolando, repórter lutando para conseguir uma única resposta...LOUCURA, LOUCURA (como em toda cobertura do tipo)!!!
Quando o tal Sílvio entrou na sala do delegado, restou perguntar ao advogado:
- Na condição de advogado, o que o sr tem a dizer??? O Sílvio sabia dos riscos? Tinha alvará???
- Esse não é o Sílvio - respondeu o advogado.
- Como não é ele? Quem é então??? - retruquei
- Um amigo meu - fechou a porta e encerrou a conversa.
Claro que imaginamos ser mentira do advogado. Provavelmente ele queria nos enganar. Para tirar a dúvida, liguei para a sala do delegado.
- Dr. Adailton, quem é esse homem que entrou aí? É o Sílvio? - perguntei.
- Não.
- É o Everaldo (mestre de obras)?
- Não!
- Quem é então?
- Curinga - disse o delegado.
- Curinga? O que é um curinga?
- Alguém que você não sabe quem é...
- Sim, mas é alguma testemunha do caso?
- Não!
- Então isso significa que a gente pagou mico? Toda a imprensa?
- Sim!
Ok, pagamos o maior mico. E depois ainda ficamos sabendo que o Sílvio e o Everaldo passaram por todos nós nesse tumulto todo. Despercebidos. E muito tranquilos.
10 a 0 para eles!
Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi, comidas que nunca provei.... sensações que nunca senti.... Cada dia é um novo aprendizado com uma nova peça encaixada na história de nossas vidas.... O caminho é este: a vida trilhada de um jeito que me faz feliz! Por Camila Marinho
O bom da vida é sair por aí...Descobrir o mundo, descobrir as pessoas e as coisas...Sentir, olhar, experimentar... viver o que é bom e saber diferenciar...ampliar os horizontes sem ter medo de ousar!!!!
Por Camila Marinho
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3 comentários:
Quanta esperteza!!
Mas que mico!!! Fiquei um tempão imaginando a cena...
Divido esse mico com você gata!!!...risos...
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