Conheço muito bem o Rio São Francisco. Já tive o prazer de mergulhar em suas águas, passear de barco ou lancha e até admirar um maravilhoso pôr-do-sol. Em parte me considero uma privilegiada por ter tido todas essas oportunidades. Muitas em função do trabalho. Me lembro da primeira vez em que vi o Velho Chico. Foi em Pirapora-MG. Na época, trabalhava na Assessoria de Imprensa da Associação Comercial de Minas, que promovia um grande evento pelos 500 anos do Rio São Francisco. Lembro-me de passear de barco num fim de tarde e ficar maravilhada com toda aquela imensidão de água. Mas uma coisa me chamou a atenção: trechos praticamente secos, assoreados, no Velho Chico. E a grande luta naquele evento, senão me engano no ano de 2001, foi pela revitalização. Tantos anos depois ela nunca aconteceu!!!
Depois de Pirapora foi a vez de conhecer parte do caminho do Rio São Francisco em Alagoas, quando pra lá me mudei... A minha primeira cobertura foi justamente sobre a cheia do Rio São Francisco, ocasionada por fortes chuvas no Estado. Em condições normais ele não seria assim. Aos poucos, fui conhecendo e aprendendo a amar cada vez mais aquela riqueza que a natureza tinha nos proporcionado. Nesta foto abaixo admiro o rio que passa pela cidade de Piranhas-AL.
Mas embaixo eu e Rubens, cinegrafista, a caminho do local onde Lampião e seu bando foram mortos, em Angicos-SE. Veja que maravilha, navegar por suas águas na divisa de Alagoas e Sergipe... Isso foi em 2005!
Conheço praticamente todas as cidades ribeirinhas, senão todas, de Alagoas. De ponta a ponta. Um dos locais mais belos, na minha opinião, é a foz do Rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe. O Pontal do Peba é onde o São Francisco encontra o mar. Foi lá que escolhi passar meu último dia de morada em Alagoas, antes de vir parar na Bahia.
Este é, sem dúvida, um dos trechos mais belos, com dunas de areia no lado alagoano do rio. Mas infelizmente é possível testemunhar as conseqüências dos problemas ambientais do Velho Chico. O oceano avançou nos últimos anos por causa da perda de força das águas do rio. Em 1994, por exemplo, as ondas riscaram do mapa centenas de casas da comunidade de pescadores do Cabeço(SE).
Em todas essas minhas andanças vi muita beleza, mas também vi muito abandono. Em alguns pontos o rio está degradado, assoreado e pede alento, pede paz. E a população que dele depende vive na incerteza do futuro.
Sempre achei que o projeto de transposição do Rio São Francisco não sairia do papel. Atravessou governos desde 1999 (caso não esteja enganada), e agora vira realidade.
Começam nesta segunda-feira (04/06) as primeiras obras de transposição do Rio São Francisco. Na minha opinião, a maior burrice já aprovada por um governo! As obras começarão em Cabrobó, município Pernambucano. E antes mesmo que a tão falada revitalização pudesse ser feita!!!! E agora, após tanta polêmica, tantas discussões, finalmente o projeto será colocado em prática. Para alegria de uns e revolta de outros. E muita gente se pergunta: Qual será o efeito da transposição para as populações ribeirinhas e para o próprio Velho Chico? Será que a transposição é realmente a melhor solução para levar água às regiões mais secas do Nordeste? Eu acredito que não, e digo isso após ouvir inúmeras opiniões, entrevistar inúmeros especialistas.
O Rio São Francisco nasce em Minas Gerais, por um filete de água na Serra da Canastra, e passa pela Bahia e Pernambuco até desembocar no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas. São quase 3 mil km de extensão. Com o projeto do Governo Federal, devem ser investidos R$ 6 bilhões até 2010 para a construção de canais e tuneis que vão levar as águas do rio até as regiões mais secas nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Na última semana, durante a cobertura de um seminário sobre a transposição do Rio São Francisco, em Salvador, conversei com o presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba, Rubens Germano. E mesmo morando num estado que será beneficiado pela transposição, sabe qual é a opinião dele???? "A transposição não é a melhor alternativa. Campina Grande precisa de uma adutora que não obrigatoriamente será a transposição".
Neste dia, a presença mais esperada no Seminário era a do Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Um baiano que já foi contra a transposição e hoje é a favor do projeto. Claro que ele não foi ao evento. E sabe o que disse o bispo da cidade baiana de Barra, Dom Luiz Cappio??? "Não é a verdade que norteia o projeto, mas sim os interesses políticos. Isso a gente nota na postura do ministro Geddel Vieira Lima". Para quem não sabe, Dom Luiz Cappio fez uma greve de fome de 11 dias em 2005 contra a transposição do Rio São Francisco.
Além de tudo isso, ainda ouvi de um especialista da UFBA, Universidade Federal da Bahia: "Está provado que as regiões que irão receber essa água têm recursos hídricos suficientes para toda a parte de abastecimento humano e para abastecimento animal".
Em meio a tudo isso, a gente se pergunta: será que o Rio São Francisco vai sobreviver??? Porque não pensaram na revitalização antes da transposição???
Um comentário:
pão de queijo NÃO LEVA BATATA...sou mineira e sei o que estou falando...
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