"As pessoas transformam-se em máquinas de ganhar dinheiro. Ou de tentar ganhar dinheiro”
A frase é de José Saramago, escritor português e Prêmio Nobel da Literatura, dita durante uma entrevista ao repórter Edney Silvestre no Jornal da Globo de ontem, terça-feira.
Agora vamos analisar: "Máquinas de TENTAR ganhar dinheiro".....Nada mais sensato do que aplicar essa frase ao momento atual que vivemos no Brasil. A cada dia somos surpreendidos com um novo escândalo de má uso do dinheiro público. Só para lembrar os mais recentes (e mais graves, é bom que se diga):
* MENSALÃO: os 22 parlamentares acusados compunham uma ampla frente suprapartidária, que tinha como objetivo dar apoio ao governo em troca de propinas. Oito legendas foram atingidas
* MÁFIA DAS SANGUESSUGAS: 72 deputados e senadores acusados de receber propina para aprovar emendas em favor da compra de ambulâncias superfaturadas. Nove legendas foram atingidas, dos governistas do PT aos oposicionistas do PSDB
* AGORA A MÁFIA DAS OBRAS, desbaratada na OPERAÇÃO NAVALHA. 47 pessoas foram presas, incluindo um ex-governador, prefeitos, secretários de estado e um deputado federal! ATÉ O MOMENTO membros de 9 partidos estão envolvidos, tanto da base do governo quanto da oposição! Sem falar nos que ainda podem ser presos porque já tiveram os nomes citados. Vale citar o MINISTRO DE MINAS E ENERGIA, SILAS RONDEAU, que ontem pediu demissão do cargo!
Ah, e vale citar que entre os três recentes escândalos houve um articulador, a ressaltar: MARCOS VALÉRIO (publicitário acusado de comprar parlamentares), FAMÍLIA VEDOIN (dona das empresas que fraudavam contratos para vender ambulâncias superfaturadas) e agora ZULEIDO SOARES VERAS (dono da empreiteira Guautama, apontado como principal líder da organização criminosa).
O sistema eleitoral no Brasil hoje abre brechas para os privilégios em processos políticos. E mais uma vez reproduzo o que disse o inteligentíssimo Saramago sobre o governo Lula e algumas expectativas frustradas:
“Eu esperava mais e melhor. O Lula apresentou-se como alguém que iria resolver aquilo. Mas estava claríssimo que ele não podia. Se não mudava, se não transformava as lógicas do poder que fazem do Brasil um país um pouco estranho neste particular... é que no fundo não há partidos, há grupos de interesses, alianças que se fazem e que se desfazem consoante as conveniências. Há uma espécie, não quero dizer, não quero chamar de, digamos, ‘caciques’, mas há qualquer coisa que vem, digamos, na linha do ‘caciquismo’, que é o influente político que não sabe muito bem por que é que ele ganhou aquele poder, mas a verdade é que o ganhou”.
Mas o poder, entende Saramago, não realiza utopias. “E como é que o Lula, supondo que representava essa utopia de justiça social, resolução dos problemas gravíssimos que tem o Brasil nesse particular, como é que ele ia resolver? Sozinho? Como uma espécie de Joana D'Arc que vem, digamos, que lança em riste resolver tudo? Claro que não podia”
Problemas políticos à parte, analisemos nossa conduta no dia-a-dia. Quantas vezes você já se pegou fazendo coisas, por menores que fossem, erradas sob algum ponto de vista? Pagar propina a um policial para se livrar de uma multa de trânsito? Deixou de declarar um bem, um dinheiro a mais, para se livrar do imposto a pagar na declaração de renda? Ou garantiu a TV a cabo com um "gato" no vizinho? E até, quem sabe, fez um caixa dois dentro da própria empresa? Sim, somos corruptos nos pequenos atos. E muitas vezes dizemos: "Ah, isso é tão pequeno...não é nada...Eu tenho que me proteger, me resguardar, já que a lei não o faz por mim"!
Pois é, o errado deixou de ser exceção para virar regra! Pensamos que agir sozinho não ajuda a mudar a realidade. E aí incidimos no erro...
Vi uma entrevista do presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Luis Roberto Cardoso de Oliveira, em que ele dizia: "Todos crescemos aprendendo que uns são mais iguais do que os outros. Mas o Estado mantém esse tipo de desigualdade e os efeitos são perversos. Fazem com que o cidadão tenha dificuldade de internalizar uma maneira de se comportar que seja padrão e por outro lado estimula a esperteza, a malandragem, o jeitinho”.
É o famoso jeitinho brasileiro... Nos espantamos com os escândalos políticos, mas esquecemos que muitas vezes fazemos pior, em atos bem menores. Prefiro pensar como um artesão de Águas Lindas de Goiás, que disse:
"Podemos ser até um grão de areia. Mas é um grão de areia que vale a pena"
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