O bom da vida é sair por aí...Descobrir o mundo, descobrir as pessoas e as coisas...Sentir, olhar, experimentar... viver o que é bom e saber diferenciar...ampliar os horizontes sem ter medo de ousar!!!!

Por Camila Marinho

25 de junho de 2007

Construções irregulares, desigualdade social e violência


Já pensou a terceira maior cidade do país, com 2 milhões e 700 mil habitantes, ter 70% das construções irregulares?? Pois esta é realidade hoje de Salvador!!! Há pouco tempo comecei a reparar na geografia da cidade e fiquei espantada ao ver que, por onde eu passava, seja periferia, centro ou bairros nobres, havia um grande número de invasões. Depois, ouvi do próprio presidente do Crea-BA que havia um estudo feito pelos engenheiros constatando o alto número de construções irregulares. Daí veio a matéria que foi ao ar nesta segunda-feira (25) no Bom Dia Brasil! Ah, ainda recebi uma outra informação alarmante de um representante da prefeitura: Salvador tem apenas 10% de área livre para construção de novas moradias, seja em lugares de baixa ou alta renda! Confiram a matéria no site do jornal, ou então click aqui.

Violência - Confesso que há algum tempo ando muito assustada com a violência em Salvador. Quando vim morar aqui, há 2 anos, muitos se vangloriavam dizendo ser uma cidade grande onde a violência ainda não tinha chegado. Pelo menos, não na proporção em que anda hoje. A cada dia ouço dizer ou faço reportagens sobre pessoas que foram assaltadas, que tiveram o carro roubado ou até perderam a vida de maneira trágica. Foi constatada nesta segunda-feira (25) a morte cerebral do aposentado José Sérgio Barbosa Fontes, de 56 anos, que teve traumatismo craniano após ser agredido na fila de um caixa eletrônico em Salvador! Segundo testemunhas, a confusão começou quando o aposentado tentou evitar que o acusado furasse a fila. Irritado, o suposto "penetra" teria batido no aposentado. O agressor alega que confundiu o aposentado com um assaltante.
Assalto cinematográfico - No último sábado (23), três assaltantes armados (dois deles adolescentes) tomaram um ônibus de assalto num bairro de classe média em Salvador e obrigaram o motorista a seguir pela contramão por avenidas movimentadíssimas da capital. Os bandidos já tinham tentado assaltar uma lanchonete e, como não conseguiram, sequestraram o ônibus, onde havia 3 passageiros. Viaturas da polícia começaram a perseguir e atirar contra o coletivo, que andou mais de 4 km na direção contrária até bater em um carro, onde estavam 3 pessoas. Duas delas, pai e filho, morreram. A outra vítima está internada em estado grave. Hoje, conversando com o motorista, com quem gravei entrevista, ele me disse que só rezava para que não acontecesse nada pior: "Parecia um videogame, em que eu tentava desviar dos carros que vinham na outra direção". O cobrador, bastante abalado emocionalmente, contou que os assaltantes estavam dispostos a matar, mas não atiraram contra as viaturas. Ao contrário dos policiais, que faziam a perseguição atirando a esmo. Agora eu me pergunto: será que nossa polícia está preparada para este tipo de situação??? Será que se tivessem apenas feito a perseguição, sem atirar e assustar os bandidos, o motorista teria sido obrigado a seguir pela contramão? O próprio motorista me disse: "eles só queriam fugir".....

Quanto ao assaltante (maior de idade), tive vontade de bater nele até sangrar, diante de tanta frieza!!! Quando me deparei com ele na sala do delegado não me contive e perguntei (sem microfone, sem câmera ligada):
- "Rapaz, como é que você teve coragem de fazer uma coisa dessas?"
E eis que ele me respondeu:
- "Fazer o quê né?"
Emendei:
- "Você não tem mulher, filha, pai e mãe? E se fosse com um deles?"
- "É assim mesmo, não tenho nada a perder"
Ainda perguntei se não se arrependia, ao passo que me disse "Só sinto muito. Se fosse me arrepender de tudo o que fiz na vida já estaria morto. Mas não tem outro jeito porque não tenho emprego, não tenho oportunidade. Minha vida é essa mesmo."

Parei por ali. Não consegui continuar a conversa. Sei que a desigualdade social reina no nosso país. Porém, não se arrepender e ainda falar tudo isso com tanta frieza já é demais. Talvez seja o ódio por ser um excluído da sociedade. Talvez tantos assaltos, tantas vidas tiradas, já não lhe causam mais dor. Nem mesmo pensar que aquela família morta poderia ser a dele. Será esse o destino do ser (des)humano? Não encontro explicações....

3 comentários:

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