O bom da vida é sair por aí...Descobrir o mundo, descobrir as pessoas e as coisas...Sentir, olhar, experimentar... viver o que é bom e saber diferenciar...ampliar os horizontes sem ter medo de ousar!!!!

Por Camila Marinho

13 de maio de 2007

Mestre com simplicidade


Na última semana tive o prazer de entrevistar Ariano Suassuna, um dos maiores dramaturgos e escritores brasileiros, autor de inúmeras obras, como o célebre "O Auto da Compadecida" (que acabou virando filme), e vários livros. Quando li a pauta da entrevista havia uma recomendação: "Entrevista às 14hs em ponto! Foi acertado com o assessor do escritor que ele pode encerrar a entrevista quando quiser". Diante disso, logo pensei que teria que lidar com uma daquelas chatas estrelas que, mesmo sendo boas naquilo que fazem, se consideram Deus! Mas a minha primeira impressão foi quebrada pela simpatia de Suassuna, que fez dois simples pedidos: "Não me diga quais são as perguntas e nem me peça pra repetir, caso contrário eu perco a naturalidade" . Achei até carismático da parte dele, ainda mais levando em consideração o caráter de "improvisação", uma de suas marcas registradas em produção teatral.
E a conversa fluiu muito agradável e animada. Prestes a completar 80 anos de idade, Ariano Suassuna, que é paraibano, mas há muitos anos vive no Recife, esteve em Salvador para receber o título de Cidadão Baiano, por sinal o sexto dele. E me disse já se considerar uma espécie de "cidadão brasileiro", por tanto carinho que recebe do povo desta nação. Perguntei a ele sobre as influências baianas em sua obra e ele me disse que Gregório de Matos foi um dos grandes nomes que contribuíram para seus romances. Ele me disse exatamente assim: "Eu tenho várias obsessões em minha vida. Uma delas é pedra. E toda vez que venho a Bahia faço questão de ir a casa de Gregório de Matos e passar a mão na soleira de pedra na frente da casa para sentir a força de Gregório".
E ressaltou que receber o título de cidadão baiano é se tornar conterrâneo de Gregório de Matos.

Depois, quando perguntei qual obra ele considerava mais baiana ele falou: "Se tivesse que excluir todas minhas obras eu salvaria "Romance d'a pedra do reino". É a obra que mais se aproximaria à baiana, porque tem grande influência de "Terra dos sem fim", do escritor baiano Jorge Amado.
E assim, nesse clima gostoso, a conversa foi fluindo. Quando perguntei se ele estava escrevendo algum livro e se tinha previsão de lançamento, ele respondeu que estava preparando um romance que deveria ficar pronto até o fim do ano. Mas o que mais me deixou encantada foi depois de perguntar desde quando estava escrevendo e ele soltou essa: "Ah, eu sou muito lento para escrever..Eu ainda escrevo à mão e faço todos os desenhos do livro... Eu fico até ACANHADO de responder. Mas comecei em 1981!".
Agora, dá para imaginar uma lenda viva da cultura brasileira se dizer acanhado diante de uma jovem repórter???? Só mesmo Ariano Suassuna....Minhas homenagens a ele!

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal essa história dos bastidores. Ariano Suassuna é mesmo sensacional.
Bjos,
Emerson Nunes

Anônimo disse...

Entrei aqui pronto pra desqualificar a vitória magra e roubada do galo. Mas tive uma grata surpresa a me deparar com mestre Ariano Suassuna que pode saber tudo de Literatura, mas nada de futebol (torce pela coisa, nem vou escrever o nome, pergunte a Marconi quem é a coisa). Só uma observação, Ariano simplesmente não mora no Recife há muitos anos, ele é pernambucano de coração, tem a alma de mameluco, como eu...
bjos

Anônimo disse...

Irmã..que honra, hein? E que cabelão é esse? Vai virar rapunzel é? Gostei viu. Beijos meus e de sua sobrinha Maria Clara. Vera

Silvia Mizuno disse...

Deste post só não concordo com o "jovem repórter".